O Milagre das Fitas Alternativas
Um ano em que todos poderiam reclamar, e com todo direito, pois fora mais uma etapa cruel da Pandemia Covid-19 em seu segundo ano. O mundo esteve ajoelhado para "o vírus maldito." Todavia, não podemos negar que para os colecionadores de fitas vhs, o formato mais nostálgico do Brasil. Os colecionadores "garimpeiros" de fitas, independente da forma, preço ou distância conseguiram alcançar êxito em suas "caçadas." Nas redes sociais diversas foram narradas em 2021 várias ocasiões onde pessoas se desapegando desses itens e ávidos colecionadores, empreendedores colocaram as mãos em acervos esplendorosos. Em todos os cantos do Brasil, ouviu-se um rumor nas redes sociais, lotes de fitas vhs ou fitas avulsas sendo compradas ou trocadas no meio do colecionismo tupiniquim.
Não obstante a isso, seguindo o fluxo desta energia que emana ainda hoje, desde os anos 80 me proporcionou chegar em um lote fantástico, nada relacionado à rede de televisão, mas o fantástico mais relacionado ao sentido grego da coisa, "fantastikós," sim, o lote foi capaz de criar imagens e fantasias indescritíveis. Ninguém. jamais teria a coragem de apostar que em pleno 2021, em algum local de uma cidade paulistana abrigaria um dos maiores acervos das fitas alternativas. Para quem ainda não conhece, as fitas alternativas fizeram parte de um fenômeno cinematográfico cultural com início nos anos 80 a meados dos anos 90. Antes mesmo das fitas vhs seladas e originais, existiram uma pequena lacuna no espaço temporal onde seres alternativos, mais conhecidas, a partir dos anos 90 por fita "pirata", fizeram a sua parte na história.
Um lote obscuro de aproximadamente 500 fitas foram salvas do limbo pelo meu amigo Jose Henrique Cirillo. Cirillo foi o "deus" enviado para salvar essas peças raras de um provável centro de reciclagem. Dentre tantas raridades, cito Sleeping Dogs de 1977, filme de guerrilha relacionado a intensos conflitos na Nova Zelândia, dirigido por Roger Donaldson com participação de Sam Neill, na época com 30 anos. Acompanhando o pacote alternativo ainda fui contemplado com o podre filme italiano de Antonio Margheriti, Canibais do Apocalipse de 1980, onde combatentes de guerra retornam para casa infectados com vírus que os transforma em canibais e eles começam atacar as pessoas e espalhando o vírus. Outro que merece destaque é o giallo de Sergio Martino de 1971, O Estranho Vício da Senhora Wardh, lançado oficialmente no Brasil como Lâmina Assassina, mas seu título original Lo strano vizio della signora Wardh, onde um assassino em série pode ser seu amante, ou "marido". Um dos melhores giallo produzido na terra do macarrão. Lâmina Assassina, conforme conhecemos por aqui, lançado pela extinta MacVideo era um dos meus sonhos de consumo desde o início da coleção, 2010/2011, juntamente com o excêntrico filme dirigido Lúcio Fulci, The New York Ripper.
A Lãmina- era um sonho que achava que jamais seria realizado. Nem cogitava encontrar no "face to face", mas foi o destino me trazer esse presente natalino com todas as honrarias de um verdadeiro soldado lutando pelo seu despojo. Então, posso dizer, como falei ao Cirillo, eu não acredito que você está ai com uma fita alternativa da Video Clube do Brasil, a maior locadora dos tempos remotos que precederam a oficialização e selagem em 1983. E nem poderíamos dizer "Locadora", pois o referido termo sequer existia ainda. Sim, era ela mesma, intacta, perfeita me esperando. A sensação de quando encontramos algo que estamos buscando para a coleção não tem preço... surreal. Anos de procura, e de repente ela está ali, na sua frente.....o que fazer? Apreciar esse lindo filme, entre tantas outras pérolas. Posso dizer, Deus foi generoso para comigo por permitir encontrar com essas maravilhasas e fantásticas fitas alternativas, e ainda, para realçar o valor da coleção, originárias da lendária Video Clube do Brasil. Portanto, 2021 foi um dos melhores anos de minha vida, e para você, como foi?
(Marcos Mourão)
